Na Europa do século 17, o cancelamento do Natal causou uma grande revolta que ocasionou, inclusive, a morte de um rei.
Na década de 1640, com a Guerra Civil Inglesa perto do final, havia uma forte disputa entre os seguidores do rei Carlos I, que comandava a Inglaterra, Escócia e Irlanda, e os apoiadores do Parlamento britânico, liderado por Oliver Cromwell.
As preferências religiosas de cada lado estavam no cerne da questão. A monarquia era ligada ao Catolicismo, enquanto o Parlamento estava alinhado ao Presbiterianismo.
No final das contas, o segundo grupo levou a melhor.

Onde entra o Natal nesta história?
Nesta época, o Natal dos ingleses era muito animado, com 12 dias de festa, de 25 de dezembro a 5 de janeiro.
No dia oficial do feriado natalino, o comércio fechava, as ruas eram decoradas e as pessoas celebravam com amigos e familiares.
Nos 11 dias seguintes, as lojas abriam, mas por tempo reduzido, e a farra permanecia em algumas casas — dependendo da condição financeira do anfitrião, é claro!
No entanto, após tomarem o poder, os presbiterianos entenderam que este longo período de festas era excessivo, e tomaram atitudes para mudar este cenário.
Por meio de um decreto oficial em 1647, os novos líderes ingleses decidiram que o Natal deveria ser utilizado para jejuar e pensar nos pecados.
Estava estritamente proibido haver decoração na rua. Os comércios deveriam ficar abertos. Festas? Nem pensar!

Proibição do Natal gerou revolta popular
No papel, a lei dos presbiterianos não significou muita coisa para os moradores da Inglaterra de séculos atrás.
Fartos das restrições e dificuldades econômicas que acompanharam a chegada do sistema protestante, a revolta pelo Natal virou também um ato político, ocasionando protestos em forma de festas.
Enquanto isso, nas cidades de Ipswich e Bury St Edmunds, jovens armados com pedaços de madeira com pregos nas pontas patrulharam as ruas para forçar os comerciantes a manterem as lojas fechadas.
No condado de Kent, por exemplo, foi preciso acionar o exército para conter a festa que se espalhara ao longo daqueles 12 dias.
O grande júri de lá decidiu que os participantes das festas deveriam ser punidos perante à lei, mas o veredito só fez com que os cidadãos se rebelassem ainda mais contra o Parlamento.
Os motins e rebeliões que aconteceram entre o final de 1647 e início de 1648 levaram a uma segunda guerra civil.
Foi neste ano, que uma ação do rei Carlos I, até então refugiado na Escócia, país que era majoritariamente protestante, acabou causando a sua execução.
O monarca negociou um acordo com os escoceses, decretando que, caso voltasse ao trono, reconheceria o presbiterianismo como religião oficial de ambos os reinos.
A atitude de Carlos I foi considerada como traição por seus apoiadores, o que o levou para a guilhotina em janeiro de 1649.
O Natal só voltou a ser o mesmo cerca de 11 anos depois da morte de Carlos I.
Em 1660, as monarquias inglesa, escocesa e irlandesa foram restauradas e todos os atos de Parlamento foram desconsiderados.
Curiosamente, quem assumiu o poder foi Carlos II, filho do rei executado.

Durante a primeira guerra, em 1914, soldados alemães e ingleses realizaram uma trégua de Natal, e até mesmo disputaram uma partida de futebol. Já não se fazem mais cristãos como antigamente.